Retrato.

Porque ela se sentia extremamente bem naquela casa , com aquela luz baixa (gostava mesmo do escurinho) e calmamente quente. A decoração levava ao acolhimento e á vontade de ali ficar. Ela sentia as prateleiras repletas de livros, de boa literatura (era o melhor dos melhores poetas), e de boas vindas. Estava sentada no sofá e apenas olhava, conseguia de qualquer angulo ler um poema ilustrado por cores quentes a lembrar alegria e assim, queria ainda mais fazer parte do ambiente. Ouvia suavemente um ronronar, era tão enroladinho e caprichoso (não largava o dono). Ela adorava passar-lhe a mão, no pelo gato da casa. Mais uma vez ouvia ronronar. Mas o que ela mesmo gostava era da sensação de que nunca ia ter de sair dali. Sentia-se, como se diz por ai, em casa (era mesmo como queria). Teria sido capaz de ali ficar, ter ido fazer o jantar, ter lavo a loiça (coisa não muito agradável)...Esperem, era uma jantar a dois, com o chefe de cozinha a dar azas a imaginação. E o ronronar sempre como fundo, entrelaçando-se entre as quatro pernas. Vinha depois uma estadia no sofá, com mais uma companhia de aconchego (estava lá uma manta), e ai, passava um clássico filme na TV. Mas isso era apenas o que ela queria, aquilo de que tinha vontade, aquilo que a deixava ainda mais feliz. Ela adorava aquelas camas baixinhas, mesmo mesmo rentes ao chão, e lá estava uma, tal e qual como gostava. Era confortável, chamativa e agradável (gostava). A luz vinda apenas pela porta aberta deixava-a intrigada, porque o ronronar encontrava-se sempre com a sua sombra naquela luz de contrastes. E melhor ainda, a musica que acabou por aparecer naquela casa era de uma cor fantástica, como se pudesse ter sido ela a ir por o CD, como se fosse ela a dizer "é isto que quero ouvir" (era mesmo). Bem, ela via-se mesmo a ficar ali. Por ela, já não punha os pés para lá daquela porta nem um milímetro. Sentia-se bem (de verdade).
Mas no fim de tudo, eu descobri, que aquilo que a fazia querer ali ficar é a pessoa que tinha como companhia.