domingo, 30 de janeiro de 2011

a letter in november.

Estamos quase à entrada da noite, as lágrimas escorrem pela minha cara, sinto-me a pior pessoa de sempre. Tu nem me consegues agarrar ou  passar rapidamente pela minha pele essa tua mão de acalmia, não me consegues chamar à razão. Entretanto, ora não aguento olhar para ti, pois esses olhos ferem-me o pensamento, ora acredito nesse olhar que me lanças e não consigo deixar de o fixar. Estou afogada em palavras, em frases, em gritos. Tu tentas levantar-me, erguer-me, sobreviver mais um pouco. Mas parecendo um só nada, eu não me consigo sentir bem. Só pensava em sair pela porta fora e levar-te comigo, para aquele lugar onde todo o resto se desvanecia por entre os meus, teus, nossos dedos. Saltava as horas, os dias, os meses e os anos e ficava a olhar no teu olhar. Bem no fundo, naquele meu, teu, nosso mundo. Ficava perdida no entrelaçado de sentimentos, no serpentear de prazer, no labiríntico canal de amor. Mas a cima de tudo, agarrava o meu coração com força, tirava-o do peito e deixava-o ver aquilo no que os sentimentos se traduzem. Porém, estamos na estreita entrada para a noite e eu estou sufocada por tristeza e esfomeada por raiva.  

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Only happy endings


























P.S. Obrigada por me relembrares agradavelmente do gosto pela fotografia e fazeres-me despertar novamente a vontade de pegar na maquina (TOSTA) 

Camuflada madrugada



















     Nublada, ligeiramente misteriosa e estrategicamente submersa por um frio áspero. (Saí de casa.) Era hora de me guiar pelas ruas da cidade e encontrar a carne viva e deambulante que reside amolgadamente por entre papelão. Tão amarga me deixa essa visão. Tão angustiada me deixa a cor da pobreza e sobretudo a pincelada dura da solidão. Ainda assim a cidade é isto. (Vou ao quiosque.) Paro para comprar um isqueiro. Pois em mais uma tentativa de procura-lo apercebo-me que mais uma vez perdi-o. Trago também como brinde um bom dia de desprezo e ainda um obrigado de ingratidão para terminar. Mas que mais se pode pedir a uma senhora de olhar morto?! Julgo que já todos assim o estamos. Mas tantos são aqueles que o escondem como aqueles que o disfarçam. (Sigo para o rio.) Alcanço em pequenas proporções lascas infinitas de água e atiro-me. Recaio debruçada sobre o espelho horizontal. Apercebendo-me assim de que nada se vê. Encontrei ali um camuflado subtil da vida. (Segui.)