quinta-feira, 14 de julho de 2011

Degrau de pedra fria

    Desci a majestosa ruela perdida no tempo, encarei cruelmente os brilhos de sol e tirei desengonçada os óculos de sol da mala pálida. Era um novo dia e parecia-me que tal luz irradiante não ia durar muito mais. Um degrau, outro degrau, vigésimo quarto degrau e lá vou eu vazia de sentimentos até ao quinquagésimo sétimo.
    Tantos? 
    Não, foram apenas nove e bem contados.
    Ainda assim mantenho-me vazia de sentimentos durante cinquenta e sete degraus, nem mais um nem menos três. 
    Continuo o caminho recto ao sol posto, deixo escapar raiva em forma de suor e inalo angustia em forma de oxigénio. Mas é assim. Cada sensação parece nova e cada olhar retardado, como se tivesse numa jaula de fogo resfriado. Ainda assim tenho chave de casa. Posso descarrilar pela escadaria novamente e segurar bem forte o coração. Agora a luz vem atrás de mim e em nada me pode desequilibrar.